Por Mark Barone
No mês passado falamos sobre
hipoglicemias graves (severas) e assintomáticas. Neste, levando em conta uma publicação
nossa recente, na qual abordamos o caso de um indivíduo que apresentou
hipoglicemia por mais de 3 horas durante o sono e não despertou, daremos
atenção a este assunto.1
![]() |
www.diabetes.org.br/ideias-e-comentarios/hipoglicemia-noturna-quais-os-riscos |
As hipoglicemias noturnas são o maior dos medos dos pais de crianças com
diabetes mellitus tipo 1 (DM1). Publicações sobre o tema confirmam o risco
de tal ocorrência.2 Em nossa pesquisa, dos 18 participantes com DM1,
apenas 1 teve hipoglicemia durante o sono. Esse voluntário, mesmo passando
parte da noite com a glicemia abaixo de 40 mg/dl, não despertou. Outros pesquisadores
já haviam observado o mesmo fenômeno em adultos e crianças com DM1. No lugar de despertar, o sono desses
indivíduos parece se aprofundar.1,3
Alguns motivos que contribuem
para esse tipo de resultado foram discutidos no mês passado, como o
comprometimento da resposta autonômica e da contrarregulação em pessoas com DM1,4
o que ao invés de disparar o despertar, contribui para que a glicemia continue
baixando. Em experimento induzindo hipoglicemia em pessoas com e sem diabetes,
os autores observaram que, dos 16 com DM1, apenas 1 despertou durante a
hipoglicemia noturna, enquanto que, dos 16 sem diabetes, 10 despertaram.5
Entre as consequências da
hipoglicemia grave, que pode se estabelecer durante o sono, destacam-se as alterações cardíacas agudas, com
prolongamento do intervalo QTc, e distúrbio de frequência e ritmo cardíaco.6
Como decorrência, existe o risco da síndrome conhecida como “dead in bed”, na qual o indivíduo é
encontrado, pela manhã, sem vida em sua cama.2,6,7
Nas décadas de 1980 e 1990,
estimava-se a ocorrência desse fenômeno em 5-6% das pessoas com DM1 até os 40
anos de idade.6 É importante, contudo, lembrar que naquelas décadas
os medicamentos, tecnologias e mesmo o conhecimento sobre diabetes eram
extremamente precários, se compararmos com os de hoje. Portanto, deve-se
considerar que há atualmente muitos
recursos que auxiliam a prevenir a hipoglicemia noturna, sem que, para
isso, o indivíduo precise se manter em hiperglicemia e, em tal caso, venha a
sofrer consequências futuras.
Referências
- Barone, MTU; Wey, D; Schorr, F; Franco, DR; Carra, MK; Lorenzi-Filho, G; Menna-Barreto, L. Sleep and glycemic control in type 1 diabetes. Arch Endocrinol Metab. 2015;59(1):71-78.
- Tanenberg RJ, Newton CA, Drake AJ. Confirmation of hypoglycemia in the "dead-in-bed" syndrome, as captured by a retrospective continuous glucose monitoring system. Endocr Pract. 2010 Mar-Apr;16(2):244-8.
- Pillar, G; et al. Interactions between hypoglycemia and sleep architecture in children with type 1 diabetes mellitus. J Pediatr. 2003 Feb;142(2):163-8.
- Gabriely I; Shamoon H. Awakening from sleep and hypoglycemia in type 1 diabetes mellitus. PLoS Med 2007 4(2):e99.
- Schultes B; et al. Defective awakening response to nocturnal hypoglycemia in patients with type 1 diabetes mellitus. PLoS Med. 2007 Feb;4(2):e69.
- Hanefeld M, Duetting E, Bramlage P. Cardiac implications of hypoglycaemia in patients with diabetes - a systematic review. Cardiovasc Diabetol. 2013 Sep 21;12:135.
- Pires, CA. Diabetes Melito tipo1, Hipoglicemia e Síndrome de morte súbita no leito. Disponível em: www.diabetes.org.br/colunistas/dr-antonio-carlos/diabetes-melito-tipo1-hipoglicemia-e-sindrome-de-morte-subita-no-leito Acesso em 12 de abril de 2015.
- Publicado originalmente em: www.diabetes.org.br/ideias-e-comentarios/hipoglicemia-noturna-quais-os-riscos
Comentários
Postar um comentário