Durante o
Fórum Internacional de Diabetes, em abril de 2014, tivemos a oportunidade de reencontrar uma grande líder na área de diabetes, que, gentilmente, sempre compartilha experiências
e nos ensina muito, Susana Feria de Campanella. Sua história de mais de
55 anos com diabetes tipo 1 e sem complicações, já seria digna de um livro. Mas
Susana é, ainda, um grande exemplo em seu país, Uruguai, em toda e América
Latina, onde é amplamente conhecida, e no restante do mundo, por tantos outros países
pelos quais levou, com seu conhecimento e determinação, esperança.
Sir Michael Hirst (presidente da IDF), Mark Barone e Susana Feria de Campanella |
Sua
história de engajamento se iniciou de forma interessante. Em 1970, já formada em
notariado (carreira da área jurídica), e com mais de 10 anos de diabetes,
Susana foi convidada a comparecer a uma reunião na Asociación de Diabéticos del Uruguay (ADU), a 2ª associação de diabetes mais antiga do mundo. Até aquele
momento ela não conhecia ninguém mais que tinha diabetes, e somente sua mãe ia,
eventualmente, até a associação. Nessa reunião ela diz ter ouvido 6 mães
relatarem horrores sobre seus filhos, que não queriam tomar insulina e atiravam
as seringas (de vidro na época) contra a parede. Susana muito se espantou,
visto que encarava o diabetes de outra forma. Em relação às seringas, diz que
fazia coleção. Todos os conhecidos que encontravam uma seringa diferente,
entregavam-na para que ela guardasse. Nesse dia, ela não falou nada, mas firmou
consigo mesma o compromisso de mudar essa situação. Nas palavras dela, “trabajar
para que otros tuvieran, al igual que yo, la alegría de vivir con diabetes, en
salud, sin tener ni causar problemas a la familia”.
A partir
daí, sem deixar de lado sua carreira e sua família, que reconhece como a base
de tudo o que aprendeu e conquistou, Susana não parou mais. De imediato se
integrou à Comissão de Ajuda Social da ADU, passando a compor a diretoria logo a
seguir, onde assumiu a presidência por 3 vezes não consecutivas. Em 1994, especializou-se
em 3º setor. Após encaminhar resultados de projetos de sucesso que estavam
sendo desenvolvidos no Uruguai para conhecimento da Federação Internacional de Diabetes (IDF), e passar a colaborar localmente com outras organizações e
lideranças, Susana foi convidada a apresentar a experiência uruguaia no
Congresso Mundial de Diabetes de Helsinki, em 1997.
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Os Young Leaders in Diabetes (YLD-IDF) Ronaldo Wieselberg, Franco Giraudo, Claudia Labate e Emanuel Vaccari, com Susana Feria e Mark Barone |
As atividades de Susana dentro da IDF se sucederam, passando de delegada
para a região SACA (Américas do Sul e Central) em 2000 a presidente regional eleita
em 2003 e reeleita em 2006. Em 2009, então, Susana foi indicada e eleita
vice-presidente Global da IDF, cargo que ocupou até 2013. Hoje, Susana continua
sua luta, apoiando associações, grupos e pessoas com diabetes em todo o mundo,
e como membro de comitês na IDF.
Por sua
atuação singular e seu exemplo de vida, especialmente após ultrapassar 50 anos
de diabetes tipo 1 sem complicações, ela recebeu diversas homenagens. Cabe lembrar
que, quando Susana foi diagnosticada, os poucos tipos de insulina existentes só
podiam ser administrados através de seringas de vidro com agulhas grossas e
compridas (precisavam se fervidas e afiadas a cada uso), e estava muito longe de
existir glicosímetro (monitor de glicemia). Entre as distinções que recebeu
estão: a famosa medalha Hagedorn, a medalha e o título de membro honorário da
ADU. Contudo, admite que o que mais lhe importa é o carinho que recebe das pessoas.
Por fim, diz se sentir como descreve o poema “En Paz”, de Amado
Nervo:
Amé, fui amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida,
estamos en paz!
Parabéns e Obrigado Susana! Que seu exemplo e seu legado inspirem e sejam seguidos por muitos!
Gostei muito de este artículo. Susana foi minha tia. Ela morreu o 31 de dezembro de 2014. Estamos todos muito orgulhosos dela, como pessoa, e por haver convertido a sua enfermedade em um caminho para ajudar a outras pessoas con diabetes.
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