Por Mark Barone
Preparava-me para escrever sobre hipoglicemias noturnas, quando me
deparei com um curto artigo na PLoS Medicine1, em que hipoglicemias graves, ou severas, e assintomáticas também eram exploradas.
Então, lembrei-me das estratégias publicadas pela JDRF2 para
reverter hipoglicemias assintomáticas, o que me fez optar por uma discreta
mudança do tema deste mês.
www.diabetes.org.br/colunistas/dr-mark-barone/o-porque-das-hipoglicemias-graves-ou-assintomaticas |
Para começar, é importante
lembrar que a secreção de hormônios
responsáveis pelo controle da glicemia, e da hipoglicemia, é comprometida em
quem tem diabetes tipo 1. É, justamente, graças à ação desses hormônios, que
quem não tem diabetes dificilmente apresenta hipoglicemia. Entre eles,
fundamentais para a contrarregulação, estão o glucagon e a adrenalina. Um dos principais motivos para essa
desregulação é o fato de a insulina, que já foi injetada, não ser inibida com a
baixa da glicemia. Com isso, a ação desse hormônio (insulina), além de
estimular a continuidade da retirada da glicose do sangue, inibe a liberação do
glucagon. Ao mesmo tempo, a adrenalina, também com sua liberação reduzida e
atrasada nessa população (acontece apenas quando o valor da glicemia já é
extremamente baixo), é acompanhada de atenuação
da resposta autonômica, comprometendo os sintomas característicos
associados à baixa da glicose. Com isso, as hipoglicemias podem não ser
percebidas e se agravar.
A ocorrência de hipoglicemias
recorrentes ou recentes está entre os principais motivos que favorecem a redução
das respostas simpatoadrenal (liberação de adrenalina e noradrenalina),
sintomática e cognitiva à hipoglicemia. Mas e então, o que fazer? Já que no
DCCT foi mostrado aumento da incidência de hipoglicemia em indivíduos com
controle intensivo, deve-se abrir mão do bom controle? De forma alguma!
Deve-se, sim, utilizar recursos educacionais, tecnológicos e/ou farmacológicos
com o intuito de amplificar os sintomas
e detectar e corrigir precocemente hipoglicemias, evitando que se agravem.
Se, mesmo fazendo ajustes na
terapia, acontecerem hipoglicemias assintomáticas, a JDRF2 faz a
recomendação abaixo, com o objetivo de reverter a perda dos sintomas. Para
isso, fica claro o propósito de reduzir
a frequência de hipoglicemias e, com isso, sair do círculo vicioso que favorece a ocorrência e o agravamento
desta condição.
- Reduzir a dose total diária de insulina e usar metas glicêmicas mais elevadas durante algumas semanas (pelo menos 2 a 3 semanas);
- Evitar, nesse período, glicemias abaixo de 90 mg/dl (para isso, medir a glicemia com maior frequência);
- Consumir alimentos (corrigir) antes que a glicemia atinja níveis baixos (abaixo de 90 mg/dl);
- Não consumir bebidas alcoólicas;
- Manter contato com a equipe de saúde, especialmente com o/a endocrinologista.
Portanto, apesar de ser um fato a
ocorrência de hipoglicemias, especialmente em pessoas com diabetes tipo 1, o avanço da tecnologia médica e do
conhecimento permite-nos lançar mão de diferentes estratégias, com destaque
à terapia individualizada e à educação contínua, para que o manejo do diabetes esteja sempre associado à qualidade de vida.
1 - Gabriely I; Shamoon H (2007) Awakening from
sleep and hypoglycemia in type 1 diabetes mellitus. PLoS Med 4(2):e99.
2 - Overland, J; Sluis, M; Reyna, R (2013) Straight
to the point: a guide for adults living with type 1 diabetes, 2nd ed.
Australia: JDRF.Publicado originalmente em: www.diabetes.org.br/colunistas/dr-mark-barone/o-porque-das-hipoglicemias-graves-ou-assintomaticas
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