Pular para o conteúdo principal

Diabulimia, talvez você tenha e não saiba...

Para tratar de um assunto tão importante nada melhor que o relato de alguém que o vivenciou.

Aproveito já para agradecer à amiga de longa data Luciana Dotti Silva por relatar sua experiência que, sem dúvida, é um importante alerta a todos que conhecem alguém com diabetes tipo 1, em especial do sexo feminino e, especialmente, às meninas com diabetes.



"Sou Luciana Dotti Silva
 
Descobri o diabetes em 1988. Depois do diagnóstico, não demorou muito para que eu desenvolvesse diabulimia (distúrbio alimentar que na época não era conhecido e que os médicos diziam apenas se tratar de uma rebeldia).
 
Inicialmente tinha uma alimentação exagerada e tomava insulina para compensar a glicemia. Não demorou muito para eu engordar.
 
Comia muito e depois, muitas vezes, provocava o vomito.
 
Logo me lembrei que, ao ficar diabética, tinha emagrecido. Decidi, desta maneira, abandonar, temporariamente, as doses de insulina para emagrecer. Depois, voltaria a tomá-las.
 
Doce, ou melhor, amargo engano.
 
Emagreci, mas não consegui parar com o comportamento alimentar errado.
 
Até tentava. Mas um simples erro na alimentação, uma simples hipoglicemia que exigisse a ingestão de alimentos açucarados deixavam-me completamente apavorada com a ideia de engordar.
 
Queria uma dieta perfeita e um simples deslize fazia com que voltasse a me alimentar erroneamente e, como conseqüência, a  diminuir consideravelmente as doses de insulina.
 
Durante 12 anos tive esse distúrbio alimentar. Em alguns momentos tentava voltar a tomar insulina, todavia como acabava me alimentado de forma exagerada, voltava a engordar e isso fazia com que eu retornasse  a abandonar quase que completamente a insulina (tomando-a somente para aguentar ficar em pé).
 
Minha hemoglobina glicada foi, muitas vezes, superior a 15%.
 
Ficava deprimida e chorava todas as noites não querendo agir da forma como agia.
 
A partir de 2000, depois de participar de um acampamento para jovens, Encontro ADJ-Jovem, tive a oportunidade de conhecer uma menina que tinha o mesmo problema.
 
Eu, que tinha vergonha de fazer o que fazia e nunca me permiti falar sobre o assunto, de repente dei de cara com alguém que falava abertamente passar pelo mesmo problema que eu.
 
Nesse momento tive a oportunidade de me abrir e isso foi o começo de minha mudança.
 
Comecei a realizar trabalhos voluntários relacionados ao diabetes, participar de grupos de jovens diabéticos e, consequentemente, relacionar-me com pessoas com diabetes.
 
Não demorou muito para, novamente, sem querer, conhecer outra menina que também passava pelo mesmo que eu. Conversamos muito sobre o assunto.
 
A troca de experiências e o envolvimento com grupos e trabalhos para o diabetes foram, sem qualquer dúvida, fundamentais para minha recuperação.
 
Desde 2000 a diabulimia desapareceu de minha vida. Passei a tomar comer normalmente e a tomar insulina sem qualquer medo de engordar (faço uma média de 8 testes por dia e se a glicemia está alta, corrijo-a imediatamente) sem oscilações de peso.
 
 
Deixo aqui meu email ( ludottis@hotmail.com ) caso alguém deseje conversar comigo, trocar ideias."

Comentários

  1. Muito bom Dotti, com certeza seu depoimento fara a diferença na vida de muitas garotas!!! pARABÉNS PELA SUA CORAGEM E PELA SUA INICIATIVA... BJS.... E VÊ SE APARECE EM sAMPA!!!! CERTAMENTE ESTAMOS TODOS COM SAUDADE DE VC!!! BJS... ARYANNE

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante, obrigada por partilhares este depoimento tão importante.

    ResponderExcluir
  3. estes anos todos de descontrole nao te fizeram mal algum? espero que nao... Assim fico mais sossegada qt a minha filhinha que apesar de todo o controle é uma mont6anha russa...as vezes sobe...e isso me apavora...

    ResponderExcluir
  4. Infelizmente fizeram sim.
    Tenho nefropatia (q trato mediante uso de medicação). Em 1999 necessitei fazer laser no olho direito (mas apenas isso), tive problemas dentários (perda de massa dentária) e tenho grande dificuldade em perceber hipoglicemias (atualmente, faço cerca de 10 testes diários para evitar problemas). Muitas mulheres com diabulimia apresentam problemas dentários (perda de massa dentária), só não sei o motivo pq isso ocorre.
    Eu, ao contrário de sua filha, tinha a glicemia constantemente alta.
    Entretanto, acredito, que vc deva procurar o médico dela para tentar melhorar essa instabilidade glicêmica.
    Participar de grupos que passam pelo que vc e sua filha passa também pode ajudar bastante. Vc acaba aprendendo coisas fantásticas e q auxiliam no tratamento do diabetes.
    Vc já foi à ADJ? Lá há grupos para crianças, pai de crianças com diabetes, jovens com diabetes, etc.

    ResponderExcluir
  5. Mark e Luciana, que maravilha que vocês abordaram este tema. Eu, que trabalho também com transtornos alimentares, sei que isto pode ser mais comum do que se imagina.
    Beijos!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Medindo a glicemia sem precisar furar o dedo

Ainda durante o congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA) de 2011 foram apresentados resultados de duas pesquisas muito interessantes, com formas não-invasivas e locais alternativos para se dosar a glicose . GlucoTrack -  www.integrity-app.com/description.html Em um deles a glicose foi dosada de forma indireta através das expiração dos indivíduos . Isto é, a composição do ar exalado por essas pessoas foi analisada e a quantidade de moléculas resultantes da presença de glicose no sangue foi identificada. Com isso, foi possível chegar a valores de glicose muito próximos aos valores da ponta-de-dedo (glicemia capilar) . Apesar de os primeiros resultados terem sido bastante promissores, ainda há desafios a serem superados. Entre eles estão: verificar em número maior de pessoas e em diferentes níveis de glicemia se a precisão se mantém, transformar o analisador da expiração em algo portátil e de fácil utilização, e deixá-lo com custo de aquisição e manutenção tão ou

Falhou a Bomba de Insulina? Saiba o que fazer!

Isabela Calventi Cada vez mais pessoas usam bombas de infusão de insulina , seja por indicação médica, seja por opção própria. As bombas se mostram bastante confiáveis, mas, por serem equipamentos eletrônicos, também podem apresentar alguma falha.  Accu-Chek Combo www.accu-chek.com/microsites/combo/about-insulin-pumping.html Há tanto falhas resultantes do mau uso da bomba quanto aquelas ocasionadas pelo desgaste do equipamento. Algumas delas são fáceis de resolver, outras dependem de assistência do fabricante. O fato é que sempre se deve levar consigo uma seringa ou caneta de aplicação com insulina ultrarrápida , caso a bomba pare de funcionar.  As bombas atuais, quando detectam alguma falha no sistema, geralmente apresentam avisos de erro no visor. Caso isso aconteça com você, consulte o manual ou entre em contato com o fabricante através do 0800 (Medtronic: 0800 773 9200 ou atendimento.diabetes@medtronic.com , Roche/Accu-Chek:  0800 77 20 126).  Medtronic Veo

Diabetes e Viagem Internacional

Se você está se preparando para uma viagem internacional , não deixe para organizar na última hora o que irá precisar para manter o controle do diabetes durante o tempo que for passar fora. P repare também ítens de segurança e burocráticos que facilitarão sua vida. Saiba como: A maioria das dicas fundamentais podem ser encontradas na seguinte publicação:  Vai viajar? Faças as malas sem esquecer da saúde... Além disso, abaixo separamos alguns documentos e informação que podem ser muito úteis. Modelo de carta de seu médico em inglês , descrevendo que você tem diabetes e que, por isso, tem que estar com todo o material para o controle do diabetes (listado na carta) com você (na bagagem de mão), durante todo o tempo. É fundamental que você tenha esta carta. Ela pode ser requesitada a qualquer momento, em especial em aeroportos. Travel Letter 1   ou Travel Letter 2 Documento  da American Diabetes Association  sobre viagens de avião com diabetes : Fact Sheet –