A relação entre o diabetes tipo 2 e distúrbios do sono já está bem estabelecida, como é o caso da apneia obstrutiva (paradas respiratórias devido à interrupção física na passagem de ar para os pulmões). Além disso, a qualidade do sono deteriorada e a redução crônica na duração do sono noturno têm sido apontadas como fatores de risco para o desenvolvimento de obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2. Os motivos parecem muitos e entre eles estão: maior oportunidade para se alimentar excessivamente enquanto acordado, alteração no perfil e nos níveis de hormônios responsáveis pelo apetite e pela saciedade (destacam-se a grelina e a leptina), e ativação de mecanismos de estresse, como o sistema nervoso simpático e a liberação de hormônios hiperglicemiantes em quantidade e horário inesperados.
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Apesar de poucos grupos de pesquisa terem se debruçado sobre a questão do sono em diabetes tipo 1 (DM1), os achados dos últimos anos chamam a atenção. Veremos, a seguir, os resultados publicados por um grupo francês, em 2013, na revista Diabetes Care (v.36, n.10).
A pesquisa foi feita com 79 adultos com diabetes tipo 1. Foram usados questionários para avaliar características do sono e da vida com diabetes, mas o destaque foi o uso de actímetros (acelerômetros de punho, que servem para diferenciar quando se está em atividade ou em repouso) por 3 dias consecutivos e de monitores de pressão arterial (MAPA) por 24h.
Com base nos resultados, os pesquisadores verificaram que os indivíduos que dormiam menos (média de ≤ 6,5 horas) apresentavam hemoglobina glicada (HbA1c ou A1C) significativamente mais elevada, em relação aos que tinham maior duração do sono (> 6 horas) [em porcentagem: 8,5±1,2 vs. 7,7±1,0, respectivamente]. Além disso, mais indivíduos que dormiam menos tinham pressão arterial de padrão nondipping (ausência da esperada redução da pressão arterial em 10% ou mais, durante a noite, em relação à pressão durante o dia). Estes indivíduos apresentaram, ainda, maior tendência a distúrbios do sono.
Conforme afirmam os autores, tanto a elevação da HbA1c quanto o padrão nondipping da pressão arterial são fatores que favorecem o desenvolvimento de complicações nessa população, com destaque para a retinopatia e a nefropatia. Com isso, faz-se importante considerar a duração do sono como um elemento fundamental para a manutenção de um controle glicêmico adequado e a prevenção de complicações crônicas.
Algumas limitações do estudo dizem respeito ao número reduzido de dias de acompanhamento de cada indivíduo, e o fato de não se saber ao certo quais deles estavam realmente privados de sono, visto que para uma minoria 6,5 horas de sono pode ser suficiente. De qualquer forma, isso não desqualifica os resultados, que contribuem como mais evidências para entendermos essa associação da qual há algum tempo já se desconfia, entre DM1 e sono. Em estudos futuros, os autores poderiam testar se ao aumentar a duração de sono (ou a oportunidade para tanto) dos indivíduos acontece redução da HbA1c e alteração do padrão pressórico, além de procurar os mecanismos que orquestram tal associação.
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