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Quais os Desafios e os Cuidados para Ser Mãe com Diabetes Tipo 1?

Para responder a essas perguntas, entrevistamos a recém-mamãe Carla Cristina Gomes Prisco. Carla tem 30 anos de idade e diabetes tipo 1 desde os 15. Dia 6 de maio de 2014 nasceu o tão desejado Luka, com 3,120 kg e 48 cm.


1) Quando você decidiu que queria fica grávida e ter um filho?

Após 8 anos de relacionamento entre namoro, noivado e casamento (3 anos de casados) eu e meu marido decidimos que estava na hora de começar a planejar nosso primeiro filho. Pesou na decisão, também, nossa idade e meu tempo de diabetes, além de estabilidade no emprego e o mais importante: nos sentíamo preparados.


2) A partir daí, como você começou a se preparar em termos de controle do diabetes?

A principio, tínhamos que pensar na minha saúde (controle do diabetes) para poder ter uma gestação segura para o nosso bebe. Então, dei entrada ao processo administrativo solicitando uma bomba de insulina (SIC) com a justificativa de ter uma gestação tranquila com glicemias mais controladas do que o tratamento que fazia com insulinas ultralenta, ultrarrápida e contagem de carboidratos. O processo deu certo, em 1 mês eu recebi um telegrama para retirar a bomba e os insumos.

Em novembro de 2012 comecei a usar a bomba, procurei a GO (Ginecologista Obstetra) e a Endocrinologista para fazer os exames necessários, tanto para a gestação quanto para o controle do diabetes. Em fevereiro de 2013 deixamos de usar os métodos contraceptivos que usávamos e em agosto 2013 engravidei.  Fiz o teste de gravidez de farmácia no dia do aniversário do meu marido em setembro e a noticia de que ele seria papai foi o melhor presente que ele poderia ganhar.

Eu sabia que, a partir daquele momento, mais do que nunca, minhas glicemias precisavam ser perfeitas para que o bebê se desenvolvesse de forma saudável.

3) Sabemos que as recomendações para controle da glicemia antes e durante a gestação são bastante rígidas (pré-refeição: 60 a 99 mg/dl, pós-refeição: 100 a 129 mg/dl e HbA1c: < 6,0%).Você, com auxílio de sua equipe de saúde, conseguiu seguir essas recomendações? 

Minhas hemoglobinas (HbA1c ou A1C) sempre foram abaixo de 7%, a última antes de engravidar estava 6,7%. Com o controle mais rigoroso das glicemias e alimentação regrada por causa da gravidez, no segundo mês de gestação consegui baixar para 5,7%, o que me deixou muitíssimo feliz e confiante para continuar com meu controle.

4) Qual foi a importância da equipe de saúde que a acompanhou para atingir seus objetivos?

Fui orientada tanto pela GO quanto pela endocrinologista e pela nutricionista a fazer um diário contendo as marcações das glicemias, horários, correções, atividade física e alimentos que fossem fora do “normal”, como: pizza, hambúrguer, chocolate, sorvete. Ficou bastante evidente que fazendo contagem de carboidratos e usando bomba, conseguia ter mais flexibilidade para me alimentar, mas sempre com moderação. 

Este diário (fiz uma planilha no Excel) nos orientou para fazer ajustes tanto no basal quanto nos bolus de insulina. Fui precisando década vez mais insulina basal e bolus com o passar da gravidez. Antes de engravidar usava uma média de 35 unidades de insulina por dia e no final da gestação estava com 70 unidades ao dia. Essas mudanças foram feitas aos poucos ao longo de 8 meses e foi tudo se acertando.

Ter esta equipe de profissionais me orientando foi fundamental, era tudo novo e desconhecido para mim e contar com o apoio e a experiência de cada uma foi fundamental. 

5) O que foi fácil e o que foi mais difícil durante a gravidez? 

A busca por glicemias perfeitas era minha maior prioridade, pois sabia que se eu não controlasse a minha glicemia o meu bebe poderia ter problemas de saúde como excesso de peso, problemas com coração e coluna, mas graças a Deus e ao meu controle e emprenho, ele nasceu perfeito e cheio de saúde. Além dos ultrassons normais a cada 20 dias para acompanhar o desenvolvimento do Luka. No ultimo mês, realizei ultrassom todas as semanas para acompanhar o peso, além de exames do coração dele.

Durante a gestação as mudanças hormonais são enormes: humor, olfato, paladar, pele, sensibilidade, parece que você se transforma em outra pessoa, de repente fica tudo diferente, sua rotina muda, tive de parar de praticar atividade física (corrida) até o terceiro mês de gestação e após este período não me sentia confortável em correr, então troquei a corrida pela hidroginástica, que foi muito importante tanto para a gravidez quanto para o controle do diabetes (fiz as aulas até a última semana de gestação).

6) E na hora do parto, quais ajustes foram necessários?

A hora do parto era o que mais me preocupava. Não sabia quais ajustes fazer à dose da insulina. Enquanto o endócrino me sugeriu que reduzisse para 70% a insulina basal após o parto, a ginecologista falou em 50%. Acabei optando por 50% e com meu marido me acompanhando e ajudando com os ajustes da bomba, visto que com a anestesia não sabíamos se eu estaria 100% acordada para tomar essas decisões.


O parto estava marcado para o dia 9 de manhã, mas o Luka resolveu se antecipar. No dia 6 fomos fazer o último ultrassom de manhã, o liquido amniótico estava abaixo do normal e já tive que ficar no hospital, o nascimento foi às 17h daquele dia.


Para a minha maior alegria e segurança, uma super amiga que também tem diabetes, é enfermeira educadora em diabetes e trabalhava com instalação de bombas de insulina (Juliana Souza) pode ir ao hospital e passou a tarde toda e o pós-parto comigo (ninguém no hospital conhecia a bomba de insulina). Durante a tarde ela me ajudou com os ajustes da bomba e no pós-parto ela foi fundamental, pois enquanto minha família e meu marido estavam com o Luka no berçário, conhecendo-o e dando banho, ela estava comigo, me ajudando e mostrando fotos do Luka pelo celular. Com isso, meu marido pode estar com nosso bebê nas suas primeiras horas de vida e viver este momento ímpar.


















7) E o Luka, como está? Há algum cuidado especial com ele pelo fato de você ter diabetes?

Enquanto todos estavam em festa no berçário, eu estava no pós-cirúrgico preocupada com a glicemia dele, sabia que ele poderia nascer com hipoglicemia, pois no útero, apesar do controle da glicemia ter sido seguido à risca, a quantidade de açúcar que ele recebia era maior que o normal, o que poderia fazer falta ao nascer. Logo fiquei sabendo que ele nasceu com a glicemia de 40mg/dl, o que equivale 70mg/dl para um adulto. Por isso, com 1 hora de vida ele tomou leite no copinho para corrigir a hipoglicemia. O pediatra da maternidade deixou recomendações para medir a glicemia a cada 6 h e, se fosse necessário, corrigir com leite. As próximas glicemias foram: 45 mg/dl e 55 mg/dl, depois disso normalizou, e não foi mais necessário dar leite no copinho para ele.


















Hoje o Luka está com quase 60 dias, 5 quilos e cheio de saúde. O meu diabetes não interfere em nada na saúde dele. O único cuidado que preciso ter a mais é evitar as hipoglicemias quando estivermos sozinhos, pois não posso correr o risco de ter uma hipoglicemia mais grave tendo um bebê que depende de mim 24 horas por dia.

8) E você, como está se sentindo hoje e qual dica pode deixar para as futuras mamães que têm diabetes?

 No dia seguinte eu mesma controlei minha glicemia e passava os resultados para as enfermeiras do hospital, reduzi a basal para 50% e de repente tudo era novo de novo. O que fazer com as glicemias agora? Com quanta insulina corrigir? Medi a glicemia de 2 em 2 horas novamente, até conseguir encontrar os valores adequados (até sair do hospital, depois de 3 dias, já estava tudo certo).

Hoje estou tomando uma média de 30 unidades de insulina por dia. Ainda é menos do que eu tomava antes de engravidar, mas isso ocorre em virtude da amamentação que baixa a glicemia. Sempre faço teste antes de iniciar as mamadas e se estivem próximo de 100 mg/dl desligo a bomba enquanto amamento para evitar a hipoglicemia, o que tem funcionado muito bem, as hipoglicemias quase não acontecem.

Enfim, ser mãe é a melhor coisa que pode acontecer a uma mulher, tendo ela diabetes ou não. O diabetes requer alguns cuidados a mais durante a gestação para o bem de todos (nosso e do bebê), mas controlando direitinho não há problemas. Nenhuma mulher deverá se privar de ter um filho por ter diabetes, todas nós somos capazes, basta querer e se dedicar.

Comentários

  1. Parabéns Carla, ser mãe e maravilhoso mesmo com diabetes, tenho as duas experiências, tive DM 1 tardio, tenho um filho de 11 anos antes do DM1 e outro de 3 anos que nasceu quando eu já tinha 40 anos e DM1. Com bons profissionais nos acompanhando e muito amor conseguimos qualquer coisa. Hoje meu filho tem 3 anos é uma criança feliz e saudável. Felicidades para vcs.!!!

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  2. Meu filho nasceu super bem não teve hipo sou diabética a 20 anos já o meu filho vai fazer 2 anos já em outubro o tempo voa, eu tive mais hipo minha glicemia nunca mais subiu depois do nascimento dele o único problema que minhas hipo eu não sinto chegou até a 22 minha glicemia mas Deus e maravilhoso e meu filho e super saudável

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  3. Prezada Vanessa,
    Parabéns pelo sucesso com seu filho.
    Sugerimos que leia o artigo sobre Hipoglicemia Assintomática, que pode ser útil a você: http://tenhodiabetestipo1eagora.blogspot.com.br/2014/03/cuidado-com-hipoglicemia-assintomatica.html

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  4. Parabéns! tenho certeza que sua historia vai ajudar muitas mulheres

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  5. Tenho diabete já faz 23 anos e sonho em ser mãe. Muito bom ouvir sua história, parabéns por sua dedicação e seu filho. Vou tentar colocar a bomba de insulina o quanto antes. Felicidades!

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  6. Sua história é como luz no fim do túnel pra mim. Fico agradecida por compartilhar.

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