Muitos acreditam que essa
polêmica em torno do termo “diabético” não passa de uma questão desimportante,
de ordem pessoal. A discussão não é nova.1 Além de debates a
respeito, pesquisas já foram feitas e entidades internacionais têm divulgado
seu posicionamento. Vejamos, então, qual a importância do assunto em pauta.
Imagem de Claudia Labate 3 |
Recentemente, o repórter da área
de saúde e bem-estar do U.S.News, Amir Khan, publicou artigo a esse respeito.2
No subtítulo ele já dá o alerta, “tire a palavra com D do seu vocabulário
quando se referir a alguém com diabetes”. No artigo, discute-se também o fato
de existir um estigma de culpa relacionado ao diabetes, que é reforçado ao se
usar o termo “diabético”. A educadora em diabetes Evan Sisson afirma: “referir-se a alguém como ‘diabético’
implica que ele não é nada mais do que a disfunção, é como se o diabetes o
definisse como pessoa”. 2 Ela alerta, também, que, ao usar o
termo com uma criança, se está passando a ideia de que ela é diferente dos
demais, o que fere sua autoestima.
O Prof. Dr. Micheal Bergman
concorda que o uso das alternativas, como: “pessoa com diabetes” ou
“ele/ela/você tem diabetes”, mantém a
pessoa, e não a doença, em primeiro lugar.2 Assim, ao perguntar
sobre a disfunção, propomos que se use “você tem diabetes?”, no lugar de
perguntar se a pessoa é “diabética”.
O Dr. Bergman revela que quando
fala com seus pacientes, nunca os trata por “diabéticos”, o que “torna muito
mais fácil estabelecer uma relação que nos coloca no mesmo patamar”, diz.
2 Da mesma forma, pessoas com outras disfunções não gostam ou não
gostariam de ser abordadas com o uso de adjetivos ou substantivos como:
“asmático”, “canceroso”, “epilético” ou “aidético”.3,4
Apesar de “nem todos ligarem”, 40,7% admitem que se incomodam quando
chamados de “diabéticos”.5
Adicionalmente, 25% das
pessoas com diabetes tipo 1 no Brasil escondem a disfunção e 54,1% considerarem
o diabetes a pior coisa que aconteceu em suas vidas.5 Portanto,
deve-se entender que a maioria prefere
ser referida e reconhecida por outras de suas características.
Levando tudo isso em
consideração, as maiores entidades internacionais dedicadas ao diabetes,
incluindo a American Diabetes Association (ADA) e a International Diabetes
Federation (IDF), não admitem o uso em suas revistas científicas (Diabetes
Care, Diabetes, Diabetes Research and Clinical Practice, entre outras) do
substantivo “diabético” para se referir às pessoas com diabetes.6
Assim, cabe a nós uma adequação de vocabulário que, além de
permitir alinhamento com entidades
internacionais, deixará o paciente
mais à vontade, sentindo-se respeitado,
e quem sabe até, em uma relação mais próxima com sua equipe de saúde, motivado
a se dedicar mais ao tratamento.
Referências
1. Barone,
Mark. Diabético, uma palavra a ser eliminada! Disponível em: http://tenhodiabetestipo1eagora.blogspot.com.br/2012/09/diabetico-uma-palavra-ser-eliminada.html
Acesso em: Fev. 2015.
2. Kahn, Amir. Why “diabetic” is a
dirty word? U.S.News. Disponível em: http://health.usnews.com/health-news/health-wellness/articles/2014/12/10/why-diabetic-is-a-dirty-word
Acesso em: Fev. 2015.
3. Labate,
Claudia. Ninguém é a diabetes. Disponível em: www.facebook.com/TenhoDiabetesTipo1EAgora/photos/pb.368388199915711.-2207520000.1423141494./660861324001729/
Acesso em: Fev. 2015
4. Grupo
de Incentivo à Vida, Rede Nacional de Direitos Humanos em HIV e Aids (RNDH).
Não para a palavra “aidético”. nº 4, maio de 1997. Disponível em: http://www.giv.org.br/ativismo/artigo03.htm
Acesso em: Fev. 2015.
5. Publicado
na Revista Diabetes, da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em julho de
2012.
6. Barone,
Mark. Diabetes: conheça mais e viva melhor. São Paulo: All Print Editora, 2014.
Publicado originalmente no Site da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD): Barone, Mark. Por que ELIMINAR o “DIABÉTICO” do seu vocabulário? Fev. 2015.
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