Há muito, busca-se um antioxidante eficaz no combate ao excesso de radicais livres, que resultam da hiperglicemia. A esperança é de se encontrar uma substância, entre micronutrientes (vitaminas e minerais), flavonoides e outras, que proteja as pessoas com diabetes do desenvolvimento e da progressão de complicações. Vitaminas como a C e a E, amplamente reconhecidas como antioxidantes, não aparecem como recomendadas para suplementação em pessoas com diabetes pela American Diabetes Association.1 Muito pelo contrário, essa entidade alerta para o risco da suplementação de vitamina E, betacaroteno e outros antioxidantes, a não ser em casos de deficiência.
Melatonina. www.brasilescola.com/quimica/melatonina.htm |
Mais recentemente, outros antioxidantes vêm sendo testados, porém com eficácia ainda não unânime, como é o caso do ácido alfa-lipóico.2 Mas, o interesse aqui é discutir outro antioxidante endógeno, a melatonina. Este é estudado por cronobiólogos há muito, por ser o hormônio da noite, secretado na fase escura do dia e, com isso, responsável por ajustar ritmos internos ao ciclo ambiental de claro/ escuro. Atualmente, outra de suas características tem exercido grande atração sobre os pesquisadores, seu poderoso efeito antioxidante.3,4 Destaca-se, por exemplo, o fato de ser uma molécula lipofílica, que interage não somente com receptores, mas entrar nas células dos diferentes tecidos e em suas organelas.
O fato interessante é que, ao mesmo tempo que se tem observado inibição na produção de melatonina por elevação na glicemia, tanto em ratos quanto em indivíduos com diabetes dos tipos 1 e 2,5,6 estudos com suplementação desse hormônio revelam efeitos promissores.
www.absono.com.br/noticia/campanha-abs-no-carnaval-nao-durma-na-direcao/ |
Os efeitos da suplementação de melatonina variam desde preservação de células beta pancreáticas7 até proteção de órgãos e tecidos frequentemente afetados pelo diabetes, especialmente em condições de hiperglicemia, incluindo: retina,8 células do sistema nervoso3 e rins9,10. Adicionalmente, identificou-se melhora dos seguintes parâmetros em animais de experimentação e/ou humanos com diabetes tipo 2: glicemia pré- e pós-prandial, hemoglobina glicada, resistência à ação da insulina, hiperleptinemia, função das células beta pancreáticas, resposta tecidual ao hipoglicemiante oral de primeira escolha, metformina e nível de microalbuminúria.9-14
Apesar dos achados positivos, ainda são necessários mais estudos em seres humanos, para que se possa entender melhor o alcance dos efeitos do uso da melatonina na endocrinologia. Quem sabe, quando mais resultados conclusivos estiverem disponíveis, a melatonina deixe de ser usada apenas nas clínicas de sono e passe a ser mais uma aliada no controle do diabetes e de suas complicações.
Referências
1. Evert et al. Nutrition Therapy Recommendations for the Management of Adults With Diabetes. Diabetes Care 2013;36:3821-42.
2. Gome MB, Negrato CA. Alpha-lipoic acid as a pleiotropic compound with potential therapeutic use in diabetes and other chronic diseases. Diabetol Metab Syndr. 2014; 6(1): 80.
3. Carpentieri A, Díaz de Barboza G, Areco V, Peralta López M, Tolosa de Talamoni N. New perspectives in melatonin uses. Pharmacol Res. 2012;65(4):437-44.
4. Seabra MLV e Cipolla-Neto J. Melatonina e sono. In: Tufik S, organizador. Medicina e biologia do sono. Barueri: Manole; 2008. p. 130-138.
5. Amaral et al. Melatonin synthesis impairment as a new deleterious outcome of diabetes-derived hyperglycemia. Journal of Pineal Research 2014;57(1):67-79
6. Radziuk J, Pye S. Diurnal rhythm in endogenous glucose production is a major contributor to fasting hyperglycaemia in type 2 diabetes. Suprachiasmatic deficit or limit cycle behaviour? Diabetologia. 2006;49(7):1619-28.
7. Yavuz et al. Protective effect of melatonin on beta-cell damage in streptozotocin-induced diabetes in rats. Acta Histochem. 2003;105(3):261-6.
8. Salido EM, Bordone M, De Laurentiis A, Chianelli M, Keller Sarmiento MI, Dorfman D, et al. Therapeutic efficacy of melatonin in reducing retinal damage in an experimental model of early type 2 diabetes in rats. J Pineal Res. 2013;54(2):179-89.
9. Hrenak et al. Melatonin and Renal Protection: Novel Perspectives from Animal Experiments and Human Studies. Curr Pharm Des. 2014 [Epub ahead of print]
10. Winiarska K, Drozak J, Wegrzynowicz M, Fraczyk T, Bryla J. Diabetes-induced changes in glucose synthesis, intracellular glutathione status and hydroxyl free radical generation in rabbit kidney-cortex tubules. Mol Cell Biochem. 2004;261(1-2):91-8.
11. Agil A, Rosado I, Ruiz R, Figueroa A, Zen N, Fernández-Vázquez G. Melatonin improves glucose homeostasis in young Zucker diabetic fatty rats. J Pineal Res. 2012;52(2):203-10.
12. Korkmaz A, Ma S, Topal T, Rosales-Corral S, Tan DX, Reiter RJ. Glucose: a vital toxin and potential utility of melatonin in protecting against the diabetic state. Mol Cell Endocrinol. 2012;349(2):128-37.
13. Kedziora-Kornatowska K, Szewczyk-Golec K, Kozakiewicz M, Pawluk H, Czuczejko J, Kornatowski T, et al. Melatonin improves oxidative stress parameters measured in the blood of elderly type 2 diabetic patients. J Pineal Res. 2009;46(3):333-7.
14. Hussain SA, Khadim HM, Khalaf BH, Ismail SH, Hussein KI, Sahib AS. Effects of melatonin and zinc on glycemic control in type 2 diabetic patients poorly controlled with metformin. Saudi Med J. 2006;27(10):1483-88.
Publicado originalmente no site da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD): Barone, Mark. MELATONINA: SERÁ QUE O HORMÔNIO DA NOITE FARÁ PARTE DO TRATAMENTO DO DIABETES? Out. 2014.
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