A notícia divulgada nesta semana traz grande esperança a milhões de pessoas com diabetes tipo 1. Há décadas se tem planejado fazer transplantes de ilhotas pancreáticas (onde estão as células produtoras de insulin) encapsuladas. O adjetivo encapsuladas aparece em destaque porque, dessa forma, não é necessário o uso de medicação anti-rejeição (sempre usada para toda a vida após transplantes tradicionais). O transplante de ilhotas não encapsuladas já foi feito em muitos pacientes por todo o mundo, inclusive no Brasil, desde 2002. Contudo, mesmo com o uso dos medicamentos anti-rejeição (imunossupressores), esses pacientes voltam a precisar se aplicar insulina em pouco tempo.
Além disso, os procedimentos usados até então tinham diversas limitações, como: o processo de isolamento das ilhotas do pâncreas é longo, custoso e extremamente delicado; para receber ilhotas suficientes, o paciente precisa receber ilhotas retiradas de aproximadamente 3 pâncreas diferentes; e conforma já mencionado, grande parte das ilhotas deixam de responder em aproximadamente 1 ano.
O Brasil também é um dos países a frente em relação às pesquisas de encapsulamento de ilhotas. Conforme divulgado pelo grupo que lidera essas pesquisas, Nucel, da USP, em pesquisa com camundongos, ilhotas encapsuladas continuaram a produzir insulina por mais de 300 dias.
Na pesquisa anunciada pela JDRF, além do encapsulamento e do fato de ser em humanos, o uso de células tronco (teoricamente inesgotáveis, diferente do número de pâncreas para doação) é outra novidade. Portanto, o que é usado no interior das cápsulas não são ilhotas já maduras retiradas de um ou mais pâncreas de defunto, mas ilhotas imaturas, produzidas a partir de células tronco, prontas para reagir, produzindo a quantidade necessária de insulina ao detectar o nível de glicose no sangue. Além de não haver necessidade de uso de imunossupressores, outro diferencial é o procedimento, que é minimamente invasivo, diferente do procedimento de transplantes tradicionais.
A notícia divulgada é de que os voluntaries serão acompanhados de perto por até dois anos. O objetivo primeiro é avaliar a segurança e a eficácia do procedimento. E, diferente de muitos protocolos que só admitem recém diagnosticados, para participar desta pesquisa a pessoa deverá ter diabetes tipo 1 há, no mínimo, 3 anos.
Vamos torcer para que tanto esse grupo quanto o Nucel, no Brasil, tenham sucesso!
Fiquei com uma dúvida que gostava que alguém me esclarecesse. O facto de as ilhotas serem encapsuladas evita também que o sistema imunitário do paciente as ataque e as destrua? É que se isso acontece o paciente volta a ficar diabético do tipo 1, pois é o sistema imunitário que destroi as ilhotas que produzem insulina.
ResponderExcluirObrigada.
Prezada Ana, a ideia é exatamente essa. Com as ilhotas encapsuladas o sistema imune não consegue mais atacá-las. Portanto, não há nem rejeição (por isso não é necessário usar imunossupressores), nem reação autoimune sobre essas ilhotas. Veja também o seguinte artigo a esse respeito: http://goo.gl/WYODUl
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